Começa António M. Feijó por afirmar no primeiro ensaio deste volume que, em relação a uma literatura nacional e à avaliação das suas obras, um cânone corresponde ao «elenco de nomes de autores dignos de se ler» (p. 11). É uma definição sucinta que a presente publicação da Fundação Cupertino de Miranda e das Edições Tinta da China, fazendo eco de O Cânone Ocidental (1994) de Harold Bloom, ilustra com 64 ensaios, maioritariamente dedicados a autores que os editores e ensaístas participantes1 têm como os mais importantes da literatura portuguesa. A expressão definida do título – O Cânone – promete instaurar uma situação de arrogante unicidade referencial que o arranjo gráfico da capa, iconicamente evocativo de pirâmides hierárquicas, acaba por desmentir com ironia.
No seu interior, este livro constitui uma seleção de autores (uns já esperados e outros nem sempre óbvios) associada a temas literários cuja abordagem se pauta por uma deliberada heterogeneidade de perspetivas que justificam o posto dos eleitos nos lugares cimeiros. O Cânone inclui, assim, os nomes de Agustina Bessa‑Luís, Alexandre Herculano, Alexandre O’Neill,