Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gosto muito do Rúben Amorim e vejo todas as conferências de imprensa dele.

Tenho uma dúvida sobre uma frase que ele disse hoje, ou seja (minuto 10:32, Youtube):

«O contexto é completamente diferente. Quando jogámos aqui, acho que tínhamos os mesmos pontos ou, se o Porto ganhasse, apanhava-nos na classificação.»

Tendo em conta que foi um evento relativo ao passado e hoje não poderia acontecer, não deveria ter dito: «Se o Porto tivesse ganhado, ter-nos-ia apanhado/tinha-nos apanhado na classificação»?

Obrigado.

Resposta:

A frase dita por Rúben Amorim ao minuto 10:32 da conferência de imprensa de antevisão do jogo do Sporting contra o Porto, ocorrido a 28/04/2024, está correta.

A oração «se o Porto ganhasse» consiste numa oração condicional contrafactual, uma vez que Rúben Amorim, na conferência de imprensa em questão, estava a referir-se à última vez em que o Sporting tinha jogado contra o Porto. Neste caso, a interpretação da oração faz-nos assumir que o antecedente é falso, ou seja, que o Porto não ganhou esse último jogo contra o Sporting.

Segundo Maria Lobo, em Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), as orações condicionais contrafactuais geralmente ocorrem com o pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo, «mas também são possíveis o imperfeito do conjuntivo e o presente do indicativo» (pág. 2021). Neste sentido, o uso da oração «se o Porto ganhasse» no contexto referido está correto. No entanto, também seria aceitável o pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo «se o Porto tivesse ganhado».

Quanto ao uso do imperfeito simples do indicativo na oração principal, «apanhava-nos na classificação», também está correto, uma vez que, tal como indica Maria Lobo, a sua função é realçar o mundo alternativo que é construído e contribuir para uma interpretação contrafactual da frase que está condicionada pragmaticamente. Pois, é «através da relação que se estabelece entre o tempo da oração principal e o da oração subordinada que conseguimos interpretar ...

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Pergunta:

Seria possível que me esclarecessem detalhadamente acerca do complemento do nome e do adjetivo e como identificá-los?

Grato pela atenção.

Resposta:

A função sintática complemento do nome consiste num constituinte do grupo nominal, selecionado pelo nome, cujo sentido completa. Este complemento pode ser um grupo preposicional não oracional, como em (1), um grupo preposicional oracional, como em (2), ou ainda um grupo adjetival, como em (3).

(1) O vendedor de gelados caminha ao longo do parque.

(2) Ele deu-me a garantia de que vinha hoje.

(3) A pesca baleeira tem vindo a aumentar.

Normalmente, o complemento do nome não pode ser suprimido, exceto em situações em que a sua inferência pode ser implícita, uma vez que a sua supressão alterar o sentido da frase ou o torna incompleto, como se pode verificar nos exemplos seguintes:

(4) O vendedor caminha ao longo do parque.

(5) Ele deu-me a garantia.

(6) A pesca tem vindo a aumentar.

Quando o complemento do nome é um grupo oracional, a preposição pode ser omitida, pois não é obrigatória, como se observa em (7):

(7) Ele deu-me a garantia que vinha hoje.

Já o complemento do adjetivo é uma função desempenhada por um constituinte selecionado por um adjetivo. Este é sempre ou um grupo preposicional não oracional, como em (8), ou um grupo preposicional oracional, como em (9).

(8) Este problema é difícil de resolver.

(9) Estou contente por teres ganho aquele prémio.

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