Luís Fernando Veríssimo - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Luís Fernando Veríssimo
Luís Fernando Veríssimo
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Luís Fernando Veríssimo (Porto Alegre, 1936) é um escritor brasileiro. É conhecido pelas crónicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicados diariamente em vários jornais brasileiros. Veríssimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista.

 
Textos publicados pelo autor
<i>Transbording</i>

O uso e o abuso de termos em inglês em registo de puro pedantismo social – que não só nalguns estratos mais urbanos da sociedade brasileira  na ironia, sempre fina, do autor, na sua coluna semanal do jornal O Globo, de 21 de maio de 2015.

 

 

Triste o país que tem vergonha da própria língua.

Fico pensando num corretor de imóveis tendo que mostrar, para compradores em potencial, um apartamento no edifício Golden Tower, ou similar, em algum lugar do Brasil.

— Isto é o que nos chamamos de entrance.

«Existe até um nome para o uso excessivo do gerúndio: endorreia», escreve Luís Fernando Veríssimo, em crónica publicada no “Actual” do semanário “Expresso”, de 2  Agosto de 2008, intitulada “A matutar”. E propõe-nos «um dicionário alternativo da língua portuguesa, não com o significado que as palavras têm mas com o significado que deveriam ter»...

 

- Pai…
- Hmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "sexo" é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
- Não devi...

Certas palavras nos dão a impressão de que voam, ao saírem da boca. "Sílfide", por exemplo. É dizer "Sílfide" e ficar vendo suas evoluções no ar, como as de uma borboleta. Não tem nada a ver com o que a palavra significa. "Sílfide", eu sei, é o feminino de "silfo", o espírito do ar, e quer mesmo dizer uma coisa diáfana, leve, borboleteante. Mas experimente dizer "silfo". Não voou, certo? Ao contrário da sua mulher, "silfo" não voa. Tem o alcance máximo de uma cuspida. "Silfo", zupt, plof. A p...