Eis alguns sufixos de origem latina:
-ança e -ância, do latim ‘-antia’, que tem o sentido de acção ou o resultado dela, estado. A evolução para o português dá -ança mas a forma culta -ância passou a ser usada a partir do Renascimento. Ocorrem casos em que os dois sufixos se usam com o mesmo sentido como constança/constância. Ocorrem em substantivos como abastança, aliança, andança, lembrança, vingança, relevância, abundância, arrogância. Actualmente o sufixo -ança não é produtivo.
-ano, do latim culto '-anus,a,um’, tem o sentido de proveniência, origem, pertença, partidário, semelhante. Ocorre em adjectivos como: romano, camoniano, parnasiano. É étimo das terminações sufixais -ão e -ã [do latim vulgar ‘-anu’ e ‘-ana’, respectivamente].
-ário, do latim clássico ‘-ariàus,a,um’ tem o sentido de profissão, relação, posse, origem. Ocorre em substantivos como antiquário, bancário, secretário, diário, fraccionário, abecedário. A forma do latim popular ‘-ariàu,a’ originou o sufixo popular -eiró/-eira como verdadeiro, banqueiro.
-cundo, do latim ‘-cundus,a,um’, que significa cheio de, propenso a, e origina substantivos como fecundo, jucundo, verecundo. Actualmente não é muito produtivo.
-eno, do latim culto ‘-enus,a,um’, tem o sentido de referência, origem. Ocorre em substantivos como terreno, chileno, sarraceno.
-ino, do latim culto (séc. XIV) ‘-iÜnus,a,um’, indica relação, origem, natureza. Ocorre em adjectivos e substantivos como alexandrino, bailarino, londrino, cristalino. Tem projecção no vulgar -inho/a
-ivo, do latim ‘-ivus,a,um’, que ocorre em adjectivos como nutritivo, festivo, nocivo. Deu origem à forma popular -io que dá a noção de colectivo ou reunião como em baldio, bravio, gentio
-ura, sufixo conexo com as terminações do latim ‘-tura’ e ‘-sura’, formador de substantivos abstractos baseados em particípios passados eruditos finalizados por -t- ou por -s- como abreviatura, candidatura, compostura, escritura, clausura, desmesura, fissura, mesura, rasura. Actualmente não é muito produtivo.
-sor, sufixo do latim presente em cultismos derivados de radicais verbais do supino como absorsor, agressor, antecessor, assessor
-tor, sufixo do latim presente em cultismos derivados de radicais verbais do supino como presentes muito cedo na língua: ablator, abstrator, adjutor, adutor, agricultor, apicultor, arboricultor, auditor, autor; benfeitor; cobertor, escritor
-ático, sufixo do latim ‘-aticus’ (composto do elemento -at- + o sufixo -ico, ‘icus’) como em acrobático, geostático, hepático, sintomático.
-ato, sufixo do latim ‘-atu’ relacionado com dignidades, funções, encargos, alternando com o sufixo -ado com a mesma origem, como anonimato, bacharelato, candidato almirantado, arcebispado, comissariado, doutorado. Actualmente o sufixo -ato é pouco produtivo.
-áceo, do latim ‘ace(us, ace(a, ace(um’ com a noção de semelhante a, da mesma natureza, como em farináceo, opiáceo, rosáceo, sebáceo, violáceo. Actualmente é pouco produtivo.
-âneo, do latim ‘-aneus,a,um’ (-eus), que indica lugar como em conterrâneo, subterrâneo, mediterrâneo mas também pode não estar relacionado com espaço como em contemporâneo, espontâneo, instantâneo.
-bundo, do latim ‘-bundus,a,um’, que significa propenso a, cheio de, como em furibundo, moribundo, nauseabundo, vagabundo. Actualmente não é muito produtivo.
-ório, do latim ‘-oriáus,a,um’, que se divide em dois sufixos: -tório (de particípios passados latinos em -t-) e -sório (de particípios passados latinos em -s-). Exemplos: abonatório, acusatório, aleatório, cartório e casório, censório, acessório.
Poderá consultar a seguinte bibliografia:
– A formação de palavras com prefixos latinos e vernáculos, Paulo Mosânio Teixeira Duarte (1995). Dissertação de doutoramento. Faculdade de Letras da Universidade Estadual Paulista.
– Morfologia derivacional, Graça Maria Rio-Torto (1998) Porto Editora, Porto.
– Estruturas morfológicas, Alina Villalva (2000). Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e Tecnologia, Lisboa.
– Compêndio de Gramática Latina – J. N. Figueiredo e M. A. Almendra, 1996, Porto Editora.
– Gramática Latina – A. Freire, 1992, Lisboa Livraria A.J.