A frase que lhe oferece dúvidas apresenta o infinitivo pessoal (também chamado flexionado), tão característico do português. Em vez de empregar uma oração subordinada com o verbo no indicativo ou conjuntivo (digamos que estes são tempos finitos), pode, em vez disso, construir uma oração subordinada com o verbo no infinitivo flexionado, fazendo-o concordar com o seu sujeito.
Por exemplo:
(i) Os professores reformularam os testes, porque os livros sofreram alteração.
(ii) Os professores reformularam os testes, em virtude de os livros terem sofrido alteração.
Em (i), a parte da frase que é introduzida pela conjunção porque é uma oração subordinada causal cujo verbo (sofreram) está na terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo. Já a oração que em (ii) é introduzida pela locução conjuncional «em virtude de» tem o verbo a concordar com «livros», na terceira pessoa do plural do infinitivo pessoal (ou flexionado) composto do verbo sofrer («terem sofrido»).
Como disse, em português é possível juntar desinências pessoais ao infinitivo. Quer isto dizer que todos os verbos têm, além do infinitivo impessoal (p.ex., sofrer) e do infinitivo impessoal composto (p.ex., ter sofrido), os quais não têm desinâncias pessoais, uma forma especial de infinitivo que se flecte em pessoa e número, ou seja, um infinitivo que tem desinências pessoais tal como os tempos chamados finitos (p.ex., presente do indicativo, o pretérito perfeito do indicativo, o presente do conjuntivo, entre outros). Assim, o verbo sofrer, tem as seguintes formas no infinitivo pessoal e do infinitivo pessoal composto:
Infinitivo pessoal: sofrer, sofreres, sofrer, sofrermos, sofrerdes, sofrerem
Infinitivo pessoal composto: ter sofrido, teres sofrido, ter sofrido, termos sofrido, terdes sofrido
O uso do infinitivo pessoal (ou flexionado) é muito frequente em orações subordinadas adverbiais de infinitivo (também conhecidas por orações não-finitas), podendo estas ser encaradas como uma alternativa às orações subordinadas adverbiais (também chamadas finitas) com o verbo no indicativo ou no conjuntivo:
a) Apesar de estarmos cansados [infinitivo pessoal], continuamos a trabalhar = Embora estejamos [presente do conjuntivo] cansados,…
b) Zangou-se por não teres telefonado [infinitivo pessoal] = Zangou-se, porque não telefonaste [pretérito perfeito do indicativo]
c) Explico para perceberes [infinitivo pessoal] = Explico para que percebas [presente do conjuntivo]
Note que, atendendo ao contexto apresentado, não se deve escrever «dos livros», mas sim «de os livros», pelo facto de a expressão «em virtude de» estar a introduzir toda uma oração («os livros terem sofrido alteração») e não apenas a expressão «os livros».