É verdade que há uma relação entre as palavras testemunha e testículos. No latim havia duas palavras homónimas testis, ambas masculinas. Uma designava a testemunha; outra, o testículo; esta segunda surgia quase sempre no plural sob a forma testes.
A palavra testiculu-, nos dicionários de latim Gaffiot, Hachette e da Porto Editora, por exemplo, é apresentada como diminutivo do segundo verbete de testis, indicado como testis2, ou seja, diminutivo de testículo… Mas também devia ser usada para designar testemunha, pois só assim se explica que a palavra principal para referir testemunha no castelhano seja testigo, palavra que, aliás, José Pedro Machado, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, também indica para o português (embora pareça contestável que a sua origem seja castelhana, pois ela tem exactamente a mesma evolução que artigo, a partir de articulu. Pode muito bem ter evoluído a partir do latim e depois ter caído em desuso…).
No português moderno verificou-se um fenómeno de divergência entre as palavras: para designar testemunha criou-se uma palavra feminina a partir do neutro testimoniu, e o diminutivo testiculu deu origem a testículo por via erudita (quem diria?). Os espanhóis, por seu lado, aproveitaram a palavra que evoluiu por via popular – testigo – para indicar a testemunha e, tal como nós, usam a que nos chegou por via erudita para referir testículo. As línguas têm destas coisas. Por isso são tão apaixonantes!
Quanto ao facto de testigos também designar testículos em castelhano, José Pedro Machado diz o mesmo para testemunhas no português, apresentando esta interpretação como popular!...
As palavras testículo e testemunha têm, afinal, uma origem próxima: testis1 – testemunha; testis2 – testículo.