Trata-se de um termo muito em voga actualmente, mas cujo uso me causa ainda uma certa estranheza e ao qual até hoje não consegui aderir.
Ouvi há tempos uma conhecida entrevistadora perguntar ao seu interlocutor: «Sente que foi injustiçado?» Ao que ele respondeu: «Não, não me sinto vítima de injustiça.» Obviamente que esta personalidade possui uma sensibilidade para a língua que a entrevistadora não revela.
O termo merece uma pequena reflexão. Injustiçado é o oposto de justiçado, palavra derivada do verbo justiçar, que significa «punir aplicando uma forma de suplício corporal, em especial condenar à morte»; justiçado «diz-se do indivíduo que recebeu como pena um suplício corporal e mais especialmente a condenação à morte» (cf. Dicionário Houaiss).
Justiçar é então sinónimo de punir e antó[ô]nimo de absolver. Em rigor, o termo injustiçado aplica-se àquele que não foi punido, que foi absolvido, querendo, pois, significar algo bastante diferente do sentido com que hoje se utiliza.
Sabemos que as palavras evoluem semanticamente e os dicionários mais recentes começam a abrir-lhe a porta. O uso faz lei… É o caso do Dicionário da Academia de Ciências, que inclui já o termo injustiça com o significado de «pessoa que é alvo de injustiça, a quem não se faz justiça».
Tal não se verifica, no entanto, no Lello Universal, que regista apenas justiçar e justiçado, com os significados, respectivamente, de «supliciar; punir com a morte» e «que ou aquele que foi supliciado». Neste dicionário ainda não surge o termo injustiçado.
Enfim, a língua portuguesa é com frequência, sabemo-lo bem, vítima de injustiça. Injustiçada?! Não, obrigada.